10, 2007 às 3:53 pm
Para mim é sempre um prazer assistir a filmes de época bem feitos. Bem enquadrados, com impecável pesquisa de vestuário, de detalhes do cotidiano. Para mim um filme que não cuida dos detalhes perde muito. Eu sou um cara chato, daqueles que fica olhando se o capacete alemão usado num filme de guerra é o da guerra de 14 ou de 39… Se o disco que usaram num gramophone é realmente de 1920 é posterior… Sou realmente chato. E quando percebo falhas gritantes já vou levando o filme menos a sério. Não foi o que aconteceu com “Miss Potter”, um filme inglês, despretensioso, mas muito bem cuidado. Passando-se em 1902, com flash backs ne década de 1880, quando a biografada era uma menina, o filme é uma pequena delícia que trata da vida da escritora e desenhista de livros infantis Beatrix Potter. Tem-se verdadeiro prazer ao assistí-lo pela música, pela linda paisagem inglesa, pelos detalhes de interiores, pela performance dos atores – Renée Zellweger, que faz a Beatrix, Emily Watson, Ewan Mcgregor… Tem-se verdadeiro prazer em acompanhar a história de uma pessoa absolutamente comum e que muda seu destino ao mostrar ao mundo a sua arte. O filme trata de superação e de preconceito. Há quem possa achar esse típico filme inglês um pouco aborrecido, afinal a história é pacata, não tem muita ação, mas esse era o estilo de vida inglês na época – ainda bem que vivemos no século XXI ! Então, conditio sine qua non para degustar esse filme, coloque-se no tempo, desarme-se, abra seu coração e sua mente e entre nessa janela para o passado. A película foi um fracasso de crítica e de público, o que pode ser bom sinal. Porque não gostaram ? Falaram das caretas de Renée Zellweger, que crueldade ! Falaram da chatice dum filme inglês histórico, ora, que gente insensível ! Não se pode mais fazer um filme tranquilo sobre uma pessoa comum que descobre seu caminho calmamente, sem cenas de batalha ou de luta chinesa ? Heróis precisam sempre portar armas ou sofrer demais ? Nossa heroína não parece sofrer muito e só descobre o amor quase por acaso. Não é um grande conto de amor. É na verdade uma história de superação das convenções sociais de uma época graças ao talento. Porque se Miss Potter não tivesse talento e não soubesse usá-lo (e também um pouco de sorte), ela teria terminado sua vida como mais uma velha solteirona inglesa que a família e as convenções soterraram. Apenas isso. O filme é doce, elegante, muito bem estruturado, com uma fotografia linda e perfeita. Os atores impressionam e gostei principalmente de Barbara Flynn, que faz a mãe de Beatrix, que a gente chega literalmente a odiar, não pela sua maldade – coisa que ela não tem – mas sim pela sua absoluta insensibilidade, quase estupidez – coisa que o seu marido demonstra ter em duas cenas emocionantes. Achei a figura do pai vital nesse filme. Ele é emblemático. Mostra que as convenções de uma sociedade sufocam, mas sempre podem permitir uma saída, quando o coração fala. O recurso de animar os desenhos de Beatrix dá uma graça especial ao filme. Os desenhos, por sinal, são belíssimos. Recomendo essa fita para pessoas curiosas, nostálgicos, amantes da natureza, interessados pela arte dos desenhos e das gravuras, fotografia de cinema, filmes históricos e de época, bibliófilos… E também a todos os simplesmente interessados em histórias de superação. Só por isso já vale. Um belo filme.Paulo José da Costa
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