12 novembro 2015

J.CARLOS NA REVISTA ILLUSTRADA




Carlos, J. (1884 - 1950)        BiografiaJosé Carlos de Brito Cunha (Rio de Janeiro RJ 1884 - idem 1950). Chargista, caricaturista, desenhista, pintor, ilustrador. Inicia sua carreira em 1902, na revista O Tagarela, dirigida por Raul Pederneiras (1874 - 1953) e K. Lixto (1877 - 1957). No ano seguinte, contribui com diversas publicações adultas e infantis até que, em 1908, emprega-se na revista A Careta, fundada neste mesmo ano por Jorge Schmidt, nela atuando até 1921. Paralelamente, colabora com diversas publicações, entre elas as revistas Fon-FonA Cigarra e O Malho, sendo esta última dirigida por ele a partir de 1918. Ao longo de sua carreira J. Carlos, com suas charges, faz a crônica do processo de urbanização da capital carioca e dos seus efeitos sociais. Entre 1922 e 1930, exerce o cargo de diretor artístico das empresas O Malho, onde inicia uma grande série de charges de caráter político, satirizando fatos e personalidades nacionais e estrangeiras. A vertente política é explorada pelo artista desde o início de sua carreira, sendo ele o responsável pela execução de uma série de charges antibelicistas executadas no período abrangido pelas duas grandes guerras e principalmente durante os dois governos de Getúlio Vargas (1883 - 1954). Esses trabalhos são publicados principalmente na revista A Careta. Aproveitando-se da relativa flexibilidade da censura imposta por Vargas em relação à política internacional, o artista publica uma série de ilustrações cujo conteúdo tinha como foco crítico a política imperialista norte-americana evidenciada após o término da Segunda Grande Guerra (1939-1945). Trabalha incansavelmente até a data de sua morte, ocorrida em 1950, na redação da revista A Careta.

Comentário CríticoJ. Carlos é um dos mais originais caricaturistas brasileiros da primeira metade do século XX. O humor, a rapidez e clareza de seu traço registram as mudanças de costumes e comportamento ocorridas no Rio de Janeiro, na virada do século XIX. Sua vida artística inicia-se em 1902 na revista Tagarela. Contudo, é como desenhista exclusivo da revista ilustrada Careta entre 1908 e 1921 - onde apresenta semanalmente uma charge para capa e seis desenhos internos - que seus personagens tornam-se conhecidos e populares. No entanto, durante sua carreira J. Carlos contribui para quase todas as revistas importantes da época como O MalhoPara TodosA Cigarra e Vida Moderna (ambas de São Paulo),Revista NacionalCinearteFon-FonA AvenidaTico-Tico (semanário infantil), O Papagaio,O Cruzeiro e A Noite. Em mais de 40 anos, J. Carlos conta com uma produção estimada em 100 mil desenhos, sendo que também realiza trabalhos no campo da publicidade entre 1931 e 1936 (entre seus clientes encontram-se a Caixa Econômica Federal, a Casa Baby e a Companhia Cinematográfica Cinédia), ilustrações de livros, decoração, cenário para peças de teatro, escultura e programação visual.
No início seu traço ainda se mostra vacilante e um pouco pesado, mas com o tempo, principalmente depois dos anos 1930, aprimora seu desenho que, com influências da art deco, se torna estilizado, elegante e sobretudo cada vez mais nítido. Seus originais são realizados a lápis, recebendo acabamento em bico-de-pena e nanquim, às vezes guachepara engrossar o traço. Para as cores dá preferência à aquarela, usando muito dois tons alternados sobre fundo branco, quase sempre em grandes superfícies chapadas.
O motivo por excelência das charges de J. Carlos é o carioca, seus hábitos e seu entorno. Seus desenhos testemunham o surgimento do telefone, da fotografia, do chope, do samba, do bonde elétrico, do automóvel, do cinema, do rádio, do avião, da cultura do futebol, da praia e do carnaval, e no campo político, a República Velha, a Revolução de 30, o Estado Novo e as duas Guerras Mundiais. Sua crônica visual não deixa escapar a modernização segregadora do projeto urbanístico de Pereira Passos e neste sentido retrata tanto os hábitos afrancesados das classes mais favorecidas - com seu footing e chás da tarde na Confeitaria Colombo - como o nascimento da cultura do morro, a disseminação das favelas e a sobrevivência da cultura carioca do Rio antigo no bairro da Lapa.
Um de seus tipos mais famosos é a figura da Melindrosa, criada em 1920. Esta foi por ele imortalizada com sua silhueta esguia, olhos redondos, o cabelo cortado a la garçonne, com o característico pega-rapaz na testa e ao lado do rosto, a boca em forma de coração pintada com batom forte. Essa mulher, misto de criança ingênua e garota refinada e sensual, presente em toda produção de J. Carlos, quase sempre sendo cortejada ou perseguida por um ou mais homens.
Também os políticos da época não escaparam ao traço mordaz de J. Carlos. Rodrigues Alves, Affonso Penna, Nilo Peçanha, Washington Luiz, Dutra, entre outros, forneceram farto material para o artista. Mas com a instalação do Estado Novo e a censura, o artista volta-se no final dos anos 1930 para a realidade crua da guerra em charges abertamente antinazistas.
J. Carlos também cria no início dos anos 1920 os personagens infantis Jujuba,LamparinaGoiabada e Carrapicho, numa época em que quase ninguém se preocupava com o público infantil. Não à toa, quando Walt Disney visita o Brasil por ocasião do lançamento de seu filme Fantasia, tenta, sem êxito, levar o artista brasileiro para Hollywood. Há quem diga que o personagem do criador americano Zé Carioca é baseado no personagem Papagaio de J. Carlos, que Disney teria visto em sua passagem pelo país. Ironicamente, ao deixar de desenhar seus personagens infantis em 1941, J. Carlos afirma: "Fi-los durante mais de vinte anos, mas hoje, um esforço tamanho para quê?...Por quê?... A remuneração é tão insignificante. Quem é que pode concorrer com esses originais estereotipados estrangeiros?".

Atualizado em 25/09/2013


Nascimento/Morte
1884 - Rio de Janeiro RJ - 18 de junho
1950 - Rio de Janeiro RJ - 2 de outubro
Vida Familiar
Avô do fotógrafo Miguel Rio Branco (1946)
Cronologia
Chargista, caricaturista, desenhista, pintor e ilustrador

1902 - Rio de Janeiro RJ - Começa a trabalhar no periódico O Tagarela, dirigido por Raul Pederneiras (1874 - 1953) e  K. Lixto (1877 - 1957)
1903/1904 - Rio de Janeiro RJ - Colabora no periódico A Avenida
1905 - Rio de Janeiro RJ - Colabora no periódico O Amor, assinando seus trabalhos sob o pseudônimo Jocotó
1905/1907 - Rio de Janeiro RJ - Colabora nas revistas O Malho e Século XX, ambas pertencentes a Max Fleiuss
1905/1907 - Rio de Janeiro RJ - Colabora nas revistas Leitura para TodosO Tico-Tico,Almanaque de O Malho Almanaque do Tico-Tico
1907/1908 - Rio de Janeiro RJ - Colabora na revista Fon-Fon
1908/1921 - Rio de Janeiro RJ - Trabalha na revista A Careta, fundada por Jorge Schmidt
1909/1914 - Rio de Janeiro RJ - Publica nas páginas da revista A Careta, a série de caricaturas que compõem a coleção intitulada Almanaque de Glórias, onde caricaturou centenas de personalidades nacionais e estrangeiras da esfera política, das ciências e das letras
1909/1911 - Rio de Janeiro RJ - Colabora na publicação O Filhote da Careta. A ilustração de capa da primeira edição é de sua autoria e satiriza Rui Barbosa (1849 - 1923)
1911 - Rio de Janeiro RJ - Na edição de 25 de fevereiro da revista A Careta, executa uma charge intitulada Entrave, onde satiriza a figura do Presidente Marechal Hermes da Fonseca
1912/1913 - Rio de Janeiro RJ - Colabora na revista O Juquinha
1913 - Rio de Janeiro RJ - Publica charge Os Noivos, na revista A Careta, onde satiriza o casamento do Presidente Hermes da Fonseca (1855 - 1923) com a caricaturista Rian (1886 - 1981)
1914/1921 - São Paulo SP - Colabora na revista A Cigarra
1915 - Rio de Janeiro RJ - Publica na revista A Careta a charge Vão Resolver o Problema, satirizando o projeto governamental de criar banheiros públicos na cidade
1918 - Rio de Janeiro RJ - Dirige juntamente com Álvaro Moreyra (1888 - 1964) o periódicoO Malho
1918 - Rio de Janeiro RJ - Concede entrevista a Bastos Tigre para a seção intitulada Meus Segredos, publicada na revista D. Quixote
1918/1921 - Rio de Janeiro RJ - Colabora nas revistas D. Quixote, pertencente a Bastos Tigre; Eu sei Tudo e Revista da Semana
1918/1921 - São Paulo SP - Colabora na revista A Vida Moderna
1919 - Rio de Janeiro RJ - Colabora na Revista Nacional  e nos periódicos O Jornal e Zum-Zum
1920 - Rio de Janeiro RJ - Executa juntamente com Fernando Correia Dias (1893 - 1935) a ornamentação do álbum oferecido ao Rei Alberto da Bélgica, durante sua visita a cidade
1920/1930 - Rio de Janeiro RJ - Publica caricaturas da sua personagem Melindrosa nas páginas dedicadas à crônica social da revista Para Todos
1921/1923 - Rio de Janeiro RJ - Colabora no periódico O Dia
1922/1930 - Rio de Janeiro RJ - Trabalha como diretor artístico das publicações da Empresa O Malho, ilustrando as revistas Para TodosIlustração BrasileiraO Malho, O Tico-TicoÁlbum de Cinearte, Leitura Para TodosAlmanaque do Malho e Almanaque do Tico-Tico. Nas revistas O Malho e Para-Todos publica uma série de charges políticas e em algumas delas assina sob o pseudônimo Léo
1922/1941 - Rio de Janeiro RJ - Ilustra o periódico Beira-Mar
1923 - Rio de Janeiro RJ - Publica na revista O Malho a charge Lições de Profilaxia, criticando a nova campanha de saneamento promovida por Carlos Chagas
1923/1925 - Rio de Janeiro RJ - Colabora no periódico Frou-Frou
1924/1925 - Rio de Janeiro RJ - Ilustra o Álbum Cinematográfico do Para Todos
1926 - Rio de Janeiro RJ - Ilustra a capa do livro Mãe d'Água, escrito por Herman Lima (1897 - s.d.) e publicado na cidade de Salvador
1928 - Rio de Janeiro RJ - Colabora no periódico Papagaio
1930 - Rio de Janeiro RJ - Realiza anúncios publicitários para a Caixa Econômica Federal, para a Light e para o Cassino Atlântico
1930 - Rio de Janeiro RJ - Escreve a peça teatral É do outro mundo, encenada no Teatro Recreio com músicas de Ary Barroso (1903 - 1964) e J. Cristóbal. Os cenários e os figurinos da peça também são de sua autoria
1931/1936 - Rio de Janeiro RJ - Faz capas para as revistas O Cruzeiro, A Noite, A Lanterna, A Nação, A Hora, Beira-Mar e Fon-Fon
1933 - Rio de Janeiro RJ - Escreve, ilustra e publica o livro infantil Minha Babá
1933/1938 - Rio de Janeiro RJ - Colabora no periódico A Ofensiva
1934 - Rio de Janeiro RJ - Executa as capas para o Suplemento Juvenil, apêndice semanal do jornal A Nação
1935/1950 - Rio de Janeiro RJ - Trabalha regularmente na revista A Careta
1950 - Rio de Janeiro RJ - Herman Lima publica um álbum com seus desenhos. O volume foi editado pelo Ministério da Educação e Cultura

Atualizado em 26/05/2010

er emenda ou rasura, como ficou evidenciado de público, na sua grande exposição retrospectiva do Salão Assírio, em fins de 1950".
Herman Lima 
LIMA, Herman. Os precursores (conclusão). In: ______. História da caricatura no Brasil. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1963. v. 3, p. 1072. Cap. 12.

"José Lins do Rego escreveu que J. Carlos está para a caricatura brasileira como Vila-Lobos para a música e Machado de Assis para a literatura. (...) Quase 50 anos após a sua morte é ainda este o julgamento da posteridade, que soube reconhecer no traço sem falha de José Carlos de Brito e Cunha a expressão mais acabada do desenho de humor nacional. (...) Como artista gráfico, J. Carlos é simplesmente prodigioso. Sua produção foi gigantesca , pois a regularidade de sua rotina de trabalho ao longo de 49 anos de carreira na imprensa garantia um fluxo ininterrupto de desenhos para abastecer as maiores revistas ilustradas do país. Se o número estimado dos desenhos que J. Carlos realizou é impressionante (mais de 100.000!), é sobretudo a qualidade constante que parece quase inacreditável, tendo em vista a rapidez com que os prazos editoriais obrigavam o artista a trabalhar. Não se conhece um único desenho ruim de J. Carlos, sobretudo a partir dos anos 20, quando seu estilo atinge a plena maturidade e um sentido inato parece invariavelmente guiar seu traço para a melhor solução gráfica ou efeito de bom gosto. (...) J. Carlos foi de fato um exímio observador da vida e dos tipos do Rio de Janeiro, alguns dos quais ajudou a criar, fixando-lhes a imagem, como a melindrosa dos anos 20, ou tornando-os recorrentes, como o português do armazém ou da padaria".
Pedro Corrêa do Lago

Críticas

"Ninguém exerceu com maior dignidade profissional a sua arte do que esse incomparável desenhista, cujas criações, da mais bela e escorreita execução e do mais fino gosto, aliados à graça do motivo e à elegância do traço, encheram durante quase meio século as páginas das nossas melhores revistas ilustradas.(...) Entretanto, talvez não haja, entre nós, país por excelência de autodidatas, exemplo igual de autodidatismo de um artista cuja obra se assinalava justamente pela perfeição do desenho, pelo equilíbrio da composição, pela harmonia do colorido, pela maravilhosa ciência do traço que fazia dos seus originais obras-primas de limpeza, livres, na quase totalidade, de qualquer emenda ou rasura, como ficou evidenciado de público, na sua grande exposição retrospectiva do Salão Assírio, em fins de 1950".
Herman Lima 
LIMA, Herman. Os precursores (conclusão). In: ______. História da caricatura no Brasil. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1963. v. 3, p. 1072. Cap. 12.


"José Lins do Rego escreveu que J. Carlos está para a caricatura brasileira como Vila-Lobos para a música e Machado de Assis para a literatura. (...) Quase 50 anos após a sua morte é ainda este o julgamento da posteridade, que soube reconhecer no traço sem falha de José Carlos de Brito e Cunha a expressão mais acabada do desenho de humor nacional. (...) Como artista gráfico, J. Carlos é simplesmente prodigioso. Sua produção foi gigantesca , pois a regularidade de sua rotina de trabalho ao longo de 49 anos de carreira na imprensa garantia um fluxo ininterrupto de desenhos para abastecer as maiores revistas ilustradas do país. Se o número estimado dos desenhos que J. Carlos realizou é impressionante (mais de 100.000!), é sobretudo a qualidade constante que parece quase inacreditável, tendo em vista a rapidez com que os prazos editoriais obrigavam o artista a trabalhar. Não se conhece um único desenho ruim de J. Carlos, sobretudo a partir dos anos 20, quando seu estilo atinge a plena maturidade e um sentido inato parece invariavelmente guiar seu traço para a melhor solução gráfica ou efeito de bom gosto. (...) J. Carlos foi de fato um exímio observador da vida e dos tipos do Rio de Janeiro, alguns dos quais ajudou a criar, fixando-lhes a imagem, como a melindrosa dos anos 20, ou tornando-os recorrentes, como o português do armazém ou da padaria".
Pedro Corrêa do Lago















































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